quarta-feira, 21 de novembro de 2007

No reino dos enamorados não há reis. Mas há nobres.


Quem, da minha geração, não se recorda desse detective meio homem meio robot, cheio de apetrechos metálicos que lhe permitiam fazer tudo, desde cozinhar a fazer bombas, voar e perfurar a terra, esticar-se até abraçar o mundo ou encolher-se até ficar achatado, tipo panqueca, no meio do chão?

Nessa altura queria ser Gadget. Queria poder tirar do chapéu uma lâmpada que ficaria acesa até às tantas e quando os meus pais viessem verificar se dormia, bastava-me apagá-la e recolhê-la para dentro do chapéu novamente. Queria esticar aquelas hélices e sobrevoar a minha escola, enquanto atirava rebuçados para o campo onde jogávamos futebol, num estilo Evita Perón do ano 3000 ("don't cry for me escolinhaaaa!"). Queria ter 50 braços para fazerem o meu trabalho enquanto eu descansava no sofá a ver televisão.Nunca percebi se o Inspector Gadget era meio burro por ser em parte robot ou se fazia mesmo parte dele. Isso assustava-me um bocado: se eu me tornasse gadget também ficaria burra? Também ia de encontro às paredes, acabava por enrolar os meus 50 braços um no outro e destruía a casa inteira?

Desisti de ser gadget. Queria só um livro como o da sobrinha. Aquele livro/pc (que se assemelha em muito aos portáteis) em que ela pesquisava tudo.Na verdade, o que funcionava mesmo era a dupla: Gadget o corpo, ela o cérebro.

E, de repente, a mais louca ideia tomou conta de mim: será que, em cada dupla, como quem diz casal, um está condenado a ser o corpo e outro o cérebro?

Sejamos francos: várias princesas Disney não deviam muito à inteligência. Ora, quem é que vai comer uma maçã de uma velhinha estranha como aquela? Será que os pais da Branca de Neve não lhe ensinaram que não se aceitam coisas de estranhos? Neste caso, ela era o corpo e os anões o cérebro, porque o príncipe nem tinha grandes ocasiões para demonstrar a sua inteligência (resumidamente, o seu papel consiste em andar a cavalgar por aí, de cabelos ao vento, e depois beijar uma morta...).

A Bela e o Monstro: bem, ela era obviamente o corpo e nem vale a pena explicar porquê... e apesar de ser uma menina que lia muito, a biblioteca do Monstro vencia-a aos palmos!

Mas as meninas também são cérebros e, para continuar na onda Disney, temos o caso da Mulan que, transvestida de homem, elabora um plano fantástico para derrotar os Hunos, enquanto o outro (gerenal qualquer coisa) fica ali especado com os seus músculos a olhar para ela (não me lembro se estava ferido e quase a morrer, mas também são pormenores!).

E podíamos seguir daqui para o cinema, para a literatura, onde muitos destes casos se repetem, deixando no ar a tal questão:

Será que numa relação estes papéis estão divididos? Isto é, não a priori, mas já dentro da relação, será que se define, instintivamente, quem fica no papel de quê?

Eu não iria tão longe. Não acredito na divisão cérebro-corpo, mas acredito que há sempre um dos elementos que controla mais a relação, seja por que método for. Não tem de ser o mais inteligente nem o mais forte. Nem tem de ser o mesmo todos os dias. Mas as relações não são equilibradas; não há, na minha opinião, momentos de igualdade na relação em que ambos tenham o mesmo poder nas decisões e rumo da mesma. Hoje posso ser eu e amanhã tu. Mas um de nós terá sempre um controlo superior, ainda que subtil, sobre a relação.

Nem tem a ver com quem gosta mais. São diferentes tipos de personalidades. É por isso que duas pessoas com personalidades controladoras têm grandes dificuldades em manter uma relação estável: qual delas acederá a submeter-se às vontades do outro? Atenção que não falo aqui em sujeição do género: QUERO IR ALI E VAMOS SENÃO LEVAS UMA TROLITADA! Não é isso. É um controlo quase invisível que faz parte da dinâmica das relações e que não faz de ninguém um coitadinho escravizado e maltratado.

Nas relações não há soberanos absolutos, mas uma espécie de democracia em que os apaixonados vão rondando entre si a presidência com uma tendência geral para um deles se manter no poder durante mais tempo que o outro.

Cérebro e corpo? Talvez não. Mas acredito que todas as relações implicam uma divisão de papéis, ainda que, muitas vezes, nem sequer demos por isso...


Como diria a outra: "Quem perdeu, foste tu só tu e nunca eu... Afinal, hoje o papel principal é meeeeeeu!"



1 comentário:

Margarida disse...

Vizinhança de rede blogger,
adorei o vosso blog! Parabéns!!
Um must!
Continuem!
ViagensdeSonhos