sexta-feira, 28 de setembro de 2007

As coisas como elas são


Chamemos as coisas pelo nome: as feridas de amor são uma merda.
Passamos tempos indefinidos a lambê-las, na esperança de que cicatrizem, a escondê-las dos outros e de nós mesmas com pensos rápidos com bonecos do Shrek (ironicamente abraçado à Fiona), a ignorá-las quando as vemos ao espelho, sabendo que sim, estamos mudadas. Há ali uma parte de nós que não ficou igual, há ali a marca inegável de uma ferida provocada por palavras, por gestos e por actos. Mesmo quando nos habituamos a ela, no reflexo, ela permanece lá, só que já não a notamos. Ficámos diferentes, mas já não nos lembramos de como éramos antes.
Esquecemos que houve um tempo em que confiávamos e acreditávamos no amor para sempre. Esquecemos que houve alturas em que julgávamos que a felicidade estava a um abraço de distância. Esquecemos que um dia fomos assim, crentes e inocentes, mas que o tempo nos fez saber, sem rodeios nem falinhas mansas, que a vida é bem mais complicada que isso e que aqueles que um dia nos fizeram sentir que a lei da gravidade não passava de uma invenção estúpida, são os mesmos que nos ensinaram que a queda é inevitável, que a gravidade se há-de rir perante a nossa descrença e que quanto mais alto subirmos... maior a queda.
É uma tragédia que atravessa toda a humanidade, desde os tempos mais remotos. Como se terá sentido a primeira mulher a chorar por um homem? Na sua caverna fria e solitária, imagino-a a desenhar imagens jocosas do respectivo, comparando-o a algum mamute e prometendo não voltar a cair. Não mudámos muito desde então, pois não?
Mas será isto, necessariamente, uma tragédia? Quer dizer, é inegável que dói, que transforma, que nos desfaz em pedaços e reconstrói sem saber bem onde encaixavam as peças. Mas não é verdade que o bem só existe por oposição ao mal, que a sombra depende da luz, que a felicidade é,na maioria das vezes, a ausência de tristeza? Então, se não houvessem feridas, se tudo resultasse à primeira, que valor teriam os bons momentos, os grandes momentos de cada relação, aqueles que se transformam em curtas-metragens fantásticas que são armazenadas na nossa memória com rótulos de nome masculino?
Tenho de admitir que já faz algum tempo e que a distância facilita tudo. E que este mesmo discurso, tão certinho e adulto, me parecerá estupidamente falso quando estiver a arrancar cabelos e maldizer toda a raça masculina.
Mas enfim, estou num momento de clarividência que só a distância mesmo pode proporcionar. E se com isso puder ajudar alguém a arrancar menos 2 ou 3 madeixas d cabelo, que tantos euros custam a pintar no cabeleireiro, dou-me por satisfeita.
Afinal, temos de ser umas para as outras. É assim que as coisas são.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Degradear ou não degradear?


Amigos coloridos.

Não sei donde nasceu a expressão, mas a mim faz-me lembrar um anúncio anti-racismo ou a lápis de cor.

Partindo do princípio que os amigos coloridos são aqueles que, de vez em quando, são mais que amigos, então suponho que, por oposição, os amigos verdadeiros sejam a preto e branco. Nada mais ridículo, visto que os amigos amigos, aqueles que supostamente são a preto e branco, são os que pintam a nossa vida com mais cores.

Os amigos coloridos deviam chamar-se os amigos "degradé". Amigos que vão oscilando entre a amizade pura e a ocasião de algo mais, entre o beijinho na cara e o abracinho mais apertado, entre o sorriso inocente e o olhar provocador. Até que ponto a amizade degradé se pode chamar amizade, porém? Até que ponto podemos estar, de facto, totalmente livres e despreocupados, junto dos nossos amigos degradés? E se um dia quisermos ser só amigos, e não quisermos obter o tom mais escuro, como fazer o sinal? Haverá alguma espécie de código secreto entre amigos degradés, tipo, três dedos para cima e dois piscares de olhos significa: hoje somos amigos a preto e branco; enquanto três dedos para cima e dois entortares de olhos significa: sim, vamos "degradear"!? E não será tudo isto demasiado complexo, correndo o risco do nosso amigo degradé não perceber patavina do nosso sinal?

O grande problema, para mim, reside neste ponto: será que o nosso amigo degradé se poderá, alguma vez, transformar num amigo a preto e branco? Ou, uma vez terminado o processo de degradear, tudo está condenado?

E isto leva-me a pensar que, se calhar, há pessoas com quem não devemos degradear. Há amigos demasiado coloridos para serem degradés porque são explosões de cor na nossa vida.

No fim, cabe a cada um de nós escolher aqueles com que devemos, queremos, ou não, degradear. A vida é feita de momentos, sucessões numa ilusão de continuidade, como um filme feito de cenas recortadas numa fita magnética e montadas com precisão de mágico. E os melhores filmes são a cores, a preto e branco ou em degradé, conforme o gosto do freguês. :P



segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Terapia feminina- a verdade e o mito

Diria que cerca de 80% das comédias românticas têm uma cena de terapia feminina. Uma daquelas cenas em que uma casa inteira se enche de mulheres numa missão impossível: socorrer uma amiga duma depressão terrível, causada por um homem igualmente terrível (ou pelo menos, no momento, por mais ternurento que seja, convém sempre que ele seja considerado terrível), que será terrivelmente mal falado nessa noite!

Entre a fantasia e a realidade, fica o imaginário masculino recheado de imagens de mulheres que pintam as unhas dos pés e fazem trancinhas umas às outras enquanto cantam o último êxito da cena pop.

"Mas é mentiraaaa, mentiraaaaaaa!", ou, pelo menos, não é 100% verdade... Aqui ficam as verdades e os mitos das missões SOS GIRL, pelo menos de acordo com a minha experiência. Tudo aquilo que viram no cinema e gostavam de confirmar!





  1. Nas missões SOS GIRL há sempre uma caixinha de lenços à mão MITO


Geralmente, se houver papel à mistura, são rolos de papel higiénico. Na verdade, não há muita gente que use caixinhas de lenços em casa.


2. As missões SOS têm como tema principal os homens VERDADE


Sim, mas nem sempre temos de falar mal deles. Há sempre alguém que se lembra de um homem decente, mesmo que ele seja uma personagem de ficção (não valem pais ou amigos gays)!

3. Fazem-se tratamentos de beleza, experimentam-se roupas, pintam-se as unhas MITO


Uma missão anti-depressão, não significa que seja uma missão pró-vaidade. Existem formas muitíssimo melhores de restaurar o ego: elogios, elogios e elogios! Ah, sim, e promessas de que "ele vai-se arrepender quando vir o que perdeu!"... O verniz, no entanto, é considerado um bónus, e pode ser incluído caso haja em vermelho forte.


4. Missão que é missão tem gelado, chocolate e bolachas VERDADE


Mas os rapazes quando se juntam também gostam de comer, não é? Sim, comemos gelado mesmo do pacote, depenicamos umas bolachinhas e costuma haver chocolate na mesa. Não que seja uma espécie de suicídio calórico, mas dizem que o açúcar anima a malta (é isso e o álcool... é o que dizem!)


5. Rasgamos fotografias, cartas e outros itens oferecidos pelo "Terrível" MITO


Ninguém, em circunstâncias normais, o fará. Somos mulheres, não somos feiticeiras que acreditam que com isso vão destruir-lhe a alma ou coisa do género... As coisas dos "exs" pertencem às caixas debaixo da cama, ao fundo de alguma gaveta, e é engraçado recordá-las, anos mais tarde, numa nova "missão SOS", para nos lembrarmos que já passámos por isso, levantámo-nos e seguimos em frente ;)



6. Existe uma espécie de chamamento para estas ocasiões VERDADE


Não são sinais de fumo, nem uivos ao luar. Infelizmente, nem sequer temos um daqueles holofotes do Batman para projectar desenhos giros no céu. Só que somos a geração SMS, a geração dos X e dos K, em que uma mensagem se escreve em 5 segundos e 5 segundos depois já todas as amigas foram alertadas e recrutadas para a missão.





Mitos e fantasias, há muitos. E não me cabe a mim destruir aquilo que o cinema, tão arduamente, implementou. Se nos querem imaginar de máscaras de argila e chinelos, a emborcar "cosmos" e a fumar charutos enquanto uma pobre se afoga no próprio ranho... tudo bem! A imaginação nunca matou ninguém, e o mundo feminino deve permanecer sempre um pouco misterioso. É o que nos torna assustadoras, complicadas e inexplicáveis. É o que os faz suspirar "Porra, mas alguém percebe as mulheres?!", os faz recuar quando gritamos "Ela está a ter um ataque de tensão pré-menstrual!!", e os leva a oferecerem-nos flores depois de quase os termos atacado com a batedeira quando as claras não ficaram propriamente em castelo e eles dizem "realmente, essas claras não ficaram propriamente batidas em castelo".


Nós nem somos assim tão más... mas não contem a ninguém! ;)









segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Síndroma Disney

Diz o velho ditado que a beleza está nos olhos de quem a vê. E eu comprovo-o, assino por baixo, e peço ao meu pai para me levar ao oculista o mais depressa possível, porque ultimamente a beleza anda escassa por estes lados.

Numa atitude de "mulher solteira, feliz e curtindo o seu tempinho", esforço-me por encontrar alguma beleza masculina por aí. Eu olho, volto a olhar, viro os olhos, fecho-os um bocadinho, esbugalho-os, e fica tudo na mesma.

E então, eu pergunto-me: será que não há homens bonitos ou são os meus olhos que já não sabem ver beleza? E, fiando-me no ditado, concluo que estou com um grave problema. Claro que vejo homens bonitos, naquele sentido puramente estético da coisa, umas carinhas engraçadas que vão passando, de vez em quando, mas, até ao momento, nada que me faça parar e dizer "Ai caramba!!(com sotaque mexicano)".

Sofro daquele síndrome feminino a que chamo o "Síndrome Disney". É cada vez menos comum, se calhar porque, cada vez menos, as meninas são criadas a ver os filmes da Disney e vêem as Winx e My Scene, com roupas da moda, conversas sobre rapazes, e truques para todas as ocasiões. É que no tempo da Disney, aquele tempo remoto em que me insiro, as princesas encontravam príncipes inteligentes, bonitos, simpáticos e cheios de valores. As MyScene namoram com actores e com o "borrachão" da escola, e as Winx.... namoram com algum feiticeiro vestido o último grito moda. Meu Deus, as nossas princesas disney vestiam-se, tantas e tantas vezes, com trapos!!!

O meu síndroma Disney bloqueou-me os sensores de beleza para a modernidade. Arrasta-me numa perseguição louca por alguém que não existe, mas que me vai interpelar com um "E Platão?" em vez do típico "HEH PAH BOAZUDA!".

Pois. O certo é que, enquanto as Barbies e as Winx andam por aí a curtir, muito chão teve de lavar a Cinderela antes de encontrar o seu príncipe. Mas encontrou-o ;)