segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Ai Lave Iu




Na verdade não interessa como o dizes, mas como o sentes.

A nossa época não é a época do "amo-te". Pelo contrário, há um medo enorme de se dizer estas palavrinhas, como se quem as pronunciasse ficasse automaticamente infectado pela lepra. Dizer "amo-te", hoje em dia, parece soar a "sou um bimbo" aos ouvidos da maioria das pessoas. É aceitável dizer "adoro-te", "gosto muito de ti", "és tudo para mim", mas ai daquele que se lembrar de dizer que ama!


Escondemos o amor por detrás de expressões light, como tudo o que se refere à nossa época. Era da fast food, do home cinema, do "curto bué de ti". Aos poucos, vamos banalizando os aspectos da nossa vida, queremos tudo instantâneo e simples e, pelo caminho, a essência das coisas vai-se perdendo, esbatendo, esfumando.


Dizer "amo-te" vem acompanhado de uma série de rituais. Primeiro pensamos nisso, depois respiramos fundo 30 vezes antes de o dizer. Como se, uma vez dito, nada voltasse a ser o mesmo. Existe toda aquela questão do "quem diz primeiro", e do "se eu disser «amo-te» será que ele mo diz de volta?", dúvidas existenciais que levam a que grande parte das pessoas da minha geração pura e simplesmente deixe de lado uma das expressões mais bonitas e populares de sempre.


E se nos filmes o "I love you" vem sempre na altura certa, com olhos meiguinhos nos olhos fofinhos, musiquinha a combinar, um ambiente perfeito, um desabafo que se antecipa ao beijo, já na vida real dizer "amo-te" não passa por tanto. E aquilo que passamos semanas a remoer sai assim, como "quero um copo de água se faz favor", um sorrisinho, um beijinho meio desajeitado, a cabeça a 200km/h "então mas ele não diz nada?! AI VOU MORRER!", ele lá se decide a retribuir o cumprimento, não sabes se porque o sente se é só por delicadeza, mas ao menos respondeu e já não tens de ficar ali especada com cara de parva. Ou então ele não diz nada, ris-te, e vais para casa bater com a cabeça na parede até conseguires ficar amnésica e esquecer o episódio.
Mas como toda a regra tem a sua excepção, existem também aqueles para quem "amo-te" não passa de palavras, usadas estrategicamente ou não, mas sem riscos alguns. Dizer que se ama alguém quando, na verdade, não o sentimos, é tão fácil como fazer o 4 (se bem que o álcool, neste caso, ajuda em vez de dificultar).

Acima de tudo, diria eu armada em psicóloga/socióloga, existe, na nossa época, um medo imenso da entrega. Não nos queremos magoar e se não dissermos o que sentimos então talvez não seja verdade. Se eu te adorar e tudo acabar, eu recupero. Se eu gostar muito de ti e me deres com os pés, não vou fazer um drama. Mas se te amar e, de repente, te esqueceres de mim, o meu mundo vai cair aos bocados! E tu vais saber disso, que é o pior de tudo!
Há um medo enorme do ridículo, isto é, de ser largada a sofrer. Como se sofrer por amor fosse assumir algum defeito ou fraqueza. Somos HUMANAS, é normal que soframos de vez em quando. Isso não nos torna mais fracas, mas, pelo contrário, mais fortes.
Dizer "amo-te" não é ridículo. Ridículo, e triste, é ter medo de o dizer e perder, assim, a oportunidade de o fazer. Não há nada pior que o "tarde demais".







PS - este post foi inspirado por um placard na minha faculdade onde se pode ler: "a lave u", escrito a giz. Infelizmente não o fotografei, porque era a ilustração perfeita.... Imaginem-no: as coisas são sempre mais bonitas imaginadas ;)

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