quarta-feira, 10 de outubro de 2007

V de Vingança

Dizem que se serve fria, mas é sempre preparada a quente. Numa cabeça fervilhante de ideias e num coração invadido por emoções contraditórias que tão bem caracterizam a vingança. Numa relação amorosa, haverá realmente espaço para a vingança?
Qual é afinal o objectivo mestre de planos diabólicos preparados às luzes de velas enquanto um tacho borbulhante de poções mágicas ferve ao lume?

Maquiavel disse que os fins justificam os meios. E este era o Maquiavel, o homem que deu o nome aos nossos actos mais cruéis e calculistas. E então eu pergunto: qual é o fim da vingança que a justifica? Magoar quem nos magoou? Receber com isso algum prazer? Encontrar, no sofrimento dos outros, o nosso bem-estar?
E se esse é o objectivo que procuram posso dizer-vos que não, não o vão achar. Porque o sofrimento daqueles que nos magoaram funciona como uma fórmula matemática básica: o meu sofrimento+ o teu sofrimento= 2 sofrimentos.

É verdade que a início a vingança tem um sabor doce. O poder de magoar alguém, sabermos que temos esse poder de castigar, pode ser bastante reconfortante. Mas passado um tempo isso esbate-se e ficam só as feridas. As tuas feridas e as dele, abertas, que por vezes nem o tempo é capaz de sarar.
A vingança envolve sacrifício. Porque magoarmos quem gostamos, mesmo quando nos magoaram, custa. É uma sensação agri-doce, feita de dor e prazer, um prazer que dói no peito e nos pergunta "está certo?" e afastamos o pirilampo da consciência com a mão e fazemo-nos máquinas de destruição maciça de sentimentos. Só que, como em qualquer guerra, ambos os lados terão as suas vítimas.
A verdade é que, quando nos vingamos, sacrificamo-nos a nós também. Valerá a pena? Será que aqueles momentos de regozijo compensam, mais tarde, a desilusão connosco mesmas? "Eu fui capaz..." deixa de se tornar um hino à nossa força e torna-se uma música triste sobre os nossos erros. As vinganças são males propositados que se instalam dentro de nós e não saem. Porque quando um dia falarmos deles, daqueles de quem nos vingámos, teremos uma lista de pessoas que magoámos pelo puro prazer de nos sentirmos melhores. E o que é que isso faz de nós?

Não alimento vinganças. Não concordo, não pelo aspecto moral da coisa, não porque "ai és tão má", mas, pura e simplesmente, porque uma vingança não leva a absolutamente lado nenhum e às vezes as maiores vítimas das nossas vinganças somos nós próprias.

E se em vez de nos vingarmos quando nos magoam erguermos a cabeça e dissermos: "para mim chega"? E se pegarmos nas nossas coisas e formos embora? Não será que é isso, sim, o que faz as grandes mulheres? "Eu fui capaz": fui capaz de ir embora sem me tornar alguém pior. Fui capaz de atravessar os anos sem o arrependimento das minhas vinganças vãs. Fui capaz de crescer, de seguir em frente, de deixar para trás aqueles que me magoavam e de encontrar pessoas que me respeitam e me dão valor.
E acreditem que no dia em que se forem embora assim, de cabeça erguida, conscientes de que estão a fazer algo para o vosso bem e não para causar sofrimento a alguém, no dia em que perceberem que estão a viver e a agir em vossa função, nesse dia, poderão causar muito mais sofrimento do que com mil vinganças.
Até lá, todas as vinganças são como jogos de ping-pong, em que ora os magoamos, ora nos magoamos a nós.

Por isso, imaginem as vossas vinganças, façam planos que assustariam o próprio diabo, desenhem armadilhas elaboradas que poderiam ser feitas a partir de pedacinhos de madeira afiados, arranjem uma lista das 1001 mortes mais dolorosas do mundo, mas depois... deitem tudo fora e procurem, em vez do sofrimento dele, a vossa FELICIDADE. Vão ver que compensa!









2 comentários:

Guizita disse...

CONCORDO 100%, e sei o signo k tenho,m concordo mm c tudo o que dizes!é isso..eu ja disse: Vou embora, e fui!=)@

Anónimo disse...

Hum… texto mto bonito e talvez noutra altura kk até concordasse, ou identificasse! Mas desde sempre k digo “sou para os outros, como eles são para mim”, logo encontrei aí uma falha nos teus cálculos matemáticos! Não é a primeira vez que sou assim, pk não é a primeira vez k m sinto assim! E não me lembro de me arrepender ou me magoar com kk vingança k tenha feito. E mesmo se isso acontecesse, sempre preferi arrepender-me de fazer, do que de não fazer! A vingança não é só um meio de descarregar a raiva e o ódio. Para mim é fechar um livro! Claro k podes-me dizer k uma vingança puxa outra! Mas nesse dia logo se vê… E mesmo k m magoe, não me vou magoar tanto como ele me magoou ao desvalorizar o acto mais “nobre”, mais doloroso k alguma vez fiz! Tentei com todas as minhas forças ignorar a existência de “fantasmas do passado”… Tive com uma pessoa sabendo k ela pensa noutra! Sabes o k é estar a saborear um abraço e de repente lembras-te: “Será k agr está a pensar nela???”. Num abraço, num beijo… Não saboreei aquilo a que tinha direito, mas não saí! Fiquei lá! Aguentei! E o que recebi em troca??? Indiferença a esse gesto. Como bónus ainda recebi mais mentiras… Sinceramente, não me parece que uma vingança me vá magoar mais do que isto… Enquanto penso nela, não penso nos bons momentos que “infelizmente” existiram e que “infelizmente” ainda me lembro… Não consigo virar as costas e esquecer! E se o tentasse sem raiva, ia cair no mesmo erro outra vez… Voltava a entrar no ciclo… Assim concentro-me na vingança e se enquanto a preparo a minha raiva desaparecer, melhor ainda! É o que prevejo…
Moral da história: a vingança tb pode ser saudável! Tudo depende das pessoas, das vivências, das relações…
Já me levantei e segui várias vezes, mas agora não pode ser assim!